
Não era de se esperar que tenha voltado; pelo visto o espelho narcisista não esconde bem as coisas. Nem ao menos faz questão disso. Com seu whisky e tweed verde, chega com elegância, suspira fundo e começa a tagarelar.
Tanto fala que encanta. Tanto encanta que fala.
Sai,
põe o óculos,
troca de roupa,
torna a inspirar,
lustra os sapatos,
engole a saliva acre,
esfrega-as-olheiras-cor-de-oliva,
esboça um sorriso marrom falso, caminha.
Não quer a velha companhia... Será?
Aqueles olhos vigilantes jamais me enganariam. Mais um retoque na maquiagem e exibe-se na janela rachada: dois reflexos, ao passo que um está turvo pelo Incerto dividindo o vidro. O Incerto mostra os dentes, cumprimenta a parceira, certifica-se que está bonito em seu terno social – contrapondo-se ao sujo trapo da Certeza. Mira a companheira de salão e a criadora de seu charmoso ego, logo ali: branca, magra e tailleur de risca de giz milimetricamente esticado na haute couture decadente. Ostenta uma piteira entre os dedos, onde aspira à névoa. À ela, que severamente mente e que tanto convence.
Tanto convence que mente.
Ainda não sabe como chamá-la, mas pode ser o nome de uma heroína que volta e cobra caro. Pede dedicação e carinho para com sua vestimenta ilusionista: precisa disso para trabalhar. Uma, duas, três riscas de giz sobre o preto. Quem seria Bianca sem toda essa roupagem? Nem ela te diria, é difícil definir uma impostora ao dizer adeus.