Desconfio que esse assunto seja o mais clichê possível, mas eu – e qualquer um com bom senso - não consigo não falar sobre a estupidez humana. Entre mentiras mal contadas e meias verdades, a (falta de) humanidade caminha tragicômica. Acabamos por nos acostumar em vida a encontrar menos pessoas de caráter e mais pesos mortos (apodrecendo). Com isso acionamos facilmente um mecanismo de defesa pessoal que tem vários nomes: pé atrás, olho aberto, seletividade e por fim desconfiança; um sentimento tão inconscientemente forte, que sem querer foi a palavra que iniciou minha reflexão algumas linhas acima.
Nossa capacidade de confiar encontra-se amputada a ponto de se transfigurar em medo de relacionar-se interpessoalmente, medo de decepções e medo de uma exposição interior maior do que deveria para outrem.
Ora, o que torna tão difícil uma mudança de atitude para com isso? Vamos raciocinar: um amputado apoia-se em outro amputado, que leva um tombo ao apoiar-se em mais um amputado, num perpetuum mobile exaustivo.
Deixando as metáforas de lado: como seria possível um ser cheio de desconfiança confiar em outros cheios de desconfiança? Ou ainda melhor: como se torna possível um mau caráter se entregar entre flores e sorrisos para outro, sabendo que esse pode (ou não) ser seu semelhante? Tem ainda outra questão que me aflige mais: Por que a minoria verdadeira é tida como facilmente manipulável, burra? Ser sincero nas atitudes seria uma falha de personalidade a ponto de vulnerabilizar socialmente quem o é? Por ser a questão que mais me deixa perplexo, é a questão mais fácil a ser respondida.
De modo geral, ninguém mais convive com o bem comum. Se há algo de comum na contemporaneidade é enxergar com maus olhos quem se doa e quem não compartilha com uma época onde homens se tornam histéricos, paranoicos ou depressivos por não suportarem a própria existência – sozinha.
Meu ponto de pessoalidade nessa reflexão não é querer me encaixar como altamente altruísta e/ou pouco individualista. Meu questionamento principal esbarra no ponto em que me torno desconfiado. Minha insistência em bater nessa tecla é a mesma que me torna uma pessoa intrigada com a maestria que alguns têm em faltar com a verdade e cinicamente se aproveitam de minha índole; mal sabem como um rápido olhar clínico traz a tona essa falsidade.