sexta-feira, 10 de agosto de 2012

As Pétalas de sua Tez jamais serão as Minhas, o Cheiro de sua Flor jamais será o Meu



Vou confessar: estou beirando ataques de fúria em um misto de extremas e tristes alegrias. O sorriso, o choro, a complacência suave e a intransigência raivosa têm caminhado juntos e entrado em discordância ressonante constantemente, num turbilhão de sentidos e sentimentos de bipolaridade complementar. É o amor, a dor, a indignação, o conformismo e todos os opostos extremos em uma mesma massa homogênea. Ultimamente ando desiludido com o mundo, tenho estado à flor da pele, com aguçado senso de apontar para o outro como uma autocritica de quem com o próprio umbigo não se contenta – e quem dirá com o que há ao redor dele. Aqui, cabe definir que este descontentamento é positivíssimo, é sinal de que a apatia e a afasia não me venceram – como várias vezes já me indaguei e por pouco escapei. Só o fato de escrever em primeira pessoa, fazer uma análise sóbria, egocêntrica e pouco figurada demonstra a vitalidade de quem não se rendeu. 


Assim segue uma metamorfose progressiva e solitária de autoconhecimento: preciso aprender a ser só, escreveu Marcos Valle, cantou Elis Regina, Tom Jobim e tantos outros. Não creio que estes tenham anunciado uma ode ao eterno solitário, mas que tenham cantado que para não cairmos numa das maiores desgraças humanas – a solidão existencialista do ser – precisamos nos ver nessa condição e nos identificarmos, apesar de (e mesmo que) tão diversas que sejam as nossas aspirações e que tais não signifiquem o detrimento do sonho alheio. 

Na realidade, deveríamos arquitetar a compreensão do outro como humano e igual nas condições – apesar de toda diversidade que nos torna contraditoriamente unos e distantes. Podemos almejar sim, ter ambições; mas ainda assim lançar um novo e renovado olhar aos nossos tão diferentes semelhantes. Este ano tem sido uma saída do casulo que criei por duas décadas, está sendo o meu momento de fazer a diferença – ambiciono o mundo, mas fico feliz (por ora) se eu atinja a mim mesmo. 

Então, pois, traço rumos pessoais que espero algum dia serem um espelho de lembranças e memórias dignas de um orgulho não arrogante. Termino, então, com reticencias, para que meus pensamentos sobre mim mesmo e sobre o mundo não tomem a forma de um conservador, engessado, seco e autoritário ponto final solitário (...)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Gostos Confessos e Doces Aromas




Me parece redundante que aqui esteja eu justificando meus motivos por escrever, vomitar palavras, organizar pensamentos sobre uma folha – ou sob uma tela. Transbordo ao escrever, busco a perfeição platônica na gramática. 

Escrevo também porque me apaixono pela forma que as letras tomam, independente se o que tiver escrito seja y, p, q, f, d, t, l ou z. Escrevo, pois assim me livro do que minha memória quer terceirizar; não seria bem um exercício de esquecimento, mas um memorando à posteridade. 

Escrevo pela mesma ânsia e mesma intensidade que fumo, como, me apaixono, amo, bebo, trepo, corro, e durmo tão profundamente que mesmo Morfeu me inveja. Escrevo também, pois algumas palavras ficam melhores lidas, do que ouvidas – ou então mais belas aqui no branco do papel que no rosado dos lábios. 

Tu ficas mais bonito, da mesma forma, sorrindo. Teu cheiro é mais gostoso misturado ao meu, do que na solidão de uma bucólica lagoa no leste. Eu fico completo com sua voz, ora rouca e ora malandra. Chama-me atenção esse olhar terno, brilhante e como quem pede uma atenção que meu olhar tenta suprir esse pedido. Me parece que um tenta absorver positivamente o outro e multiplicar – com certos requintes de teimosia – o que cada um guarda de melhor: jovialidades, inteligências, conversas, risadas, choros, ternuras e carinhos. 

É dessa forma que gosto da letra, de transpor os sentidos e sentimentos na folha. Gosto de sentir, e gosto de ti.