segunda-feira, 18 de maio de 2009

Madressilva ou Madre Silva.

Não é falta de procura, ou falta de ser procurada; lá está ela, com sua roupagem branca e o bouquet artificial com cheiro peculiar. Encontra-se em meio a desconhecidos, familiares, amigos - todos muito afetuosos, pegajosos, sexuais e travam uma disputa que será vencida por quem tiver a maior e melhor capacidade de desprezo.

Não é falta de procura, ou falta de ser procurada; e lá está ela novamente: o vestido branco, rasgado e manchado de vinho tinto e cinzas de seu cigarro longo. Gorducha, dedos curtos, unhas fazendo par com as manchas da roupa, o cálice cheio-semi-vazio, o bouquet murcho e o rosto deslumbrante. Rodeada pelos mesmos corpos anteriores, da início ao ritual de disputa. Recebe beijos e toques nos lugares mais sujos, iludindo-a de que aquilo é o que ela sempre buscou.

O silêncio tomou conta do casório.

Não é falta de procura. E mais uma vez a noiva gorducha está no mesmo lugar, quase desnuda - o vestido sujo, manchado e queimado já fora arrancado pelos mesmos já citados anteriormente. Permanecera a maquiagem extremamente vulgar que ressaltava suas rugas, dentes amarelados de nicotina, papadas e olheiras; e o véu não fazia questão de esconder o corpo estriado e esburacado que cultivara com tanta fartura ao longo dos anos. Os comensais arrancaram-lhe pedaços, deixando somente os dois buracos úteis da noiva. Sorria verdadeiramente com a felicidade alheia.

Já desnuda, demaquilada e despedaçada, só restava-lhe o bouquet com o insuportável cheiro de madressilva. Salão vazio, cinzeiros cheios e restos. Vestiu-se e partiu certa de que o ritual acontecido foi seu ideal de amor. Juntou as sobras para comer mais tarde.

Não é falta de procura e nem falta de ser procurada.
Só não sabiam (e nem sabia) onde achar e nem o que procuravam.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Conto do Canto Pelos Cantos

Foi naquele canto que tu surgiste. Um canto de conforto, só cabia a ti estar lá. Lembrou a forma como sonhei em cozinhar, trabalhar, rir, trepar, dormir, aproveitar - somente contigo. Estou ficando louco, esperando que por nada neste mundo sintas o peso de meus pensamentos, e nos mais íntimos momentos torço para atingí-lo de forma tão arrebatadora que te machuque profundamente.

Não lembro quando foi que me tornei amargo e vingativo, tu também não, obviamente. Tu provavelmente deixaste de notar que tomei o teu canto somente para mim, e estás tão perdido em outros que esqueceste de retomar o que te pertence. Em contraponto estou te roubando o desejo, o desejado, o conforto e os delírios tão cobiçados. Caso não tenhas notado, não preciso mais te usar. Levanto do teu canto - e canto - pelo alívio de me ver longe de tudo que cultivaste sem a mínima vontade de manter - foi onde, num átimo, o subalterno já te superou sem teres enxergado a realidade.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

quem diria que fôramos um.

Depois do dia de hoje pensei que conseguiria vomitar (escrever) tudo o que gostaria. Após uma jornada chuvosa onde passei a maior parte do tempo com o coração a me dar socos, conversas desconcertantes em uma sessão de psicanálise (sexo: impossível fugir disso com Freud), pensamentos execráveis, ver a realidade distorcida, dormir e sonhar com a ex-namorada (passado distante), flambar o cérebro ouvindo música eletrônica, comer pelo menos o dobro do usual e tentar despistar o silêncio do meu apartamento com risadas sobre a vida alheia, cheguei a uma conclusão: minha inspiração está muito longe do que já foi. Maldita! O que fizeste comigo? Sinto-me roubado; devolva minha criatividade, por favor.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Manipulada

Certo lugar em certa cidade. Calor costumeiro, bar vazio. No espelho ela espera uma troca de olhares que não será correspondida. tenta se concentrar no jogo, é somente sua terceira vez em mesa de bilhar. Aquele olhar vai dar uma volta, e ela solta para os amigos que o deseja. O segredo não guardado vira mais um jogo; dessa vez mais envolvente.

Eis que os olhares encontram-se finalmente. Olhares, palavras e mãos. Mais uma descida degradante - balbuciou ela - envolta por braços e cabelos ao vento. O cheiro é de forte perfume, que a fere. A fera não consegue entender o ar de ofendida, mas consegue fazê-la atender a seu próximo pedido; obediente e submissa, torna a cumprir tarefas. Satisfeito com a conquista, vai embora, deixando-a em seu quarto com a luz da aurora na janela. A moça adormece atordoada, sentindo a invasão enorme depois do acontecido. Poderia afundar em seu colchão por anos - não estava disposta a acordar com tamanha humilhação.

Ao entardecer, outra surpresa: o moço se arrependera; com um novo olhar - de vergonha - beija a moça furiosa e forçosamente - ele não sabia lidar com esse estranho momento de arrependimento amargo. Um tapa, outra discussão, outro momento extasiante. Não fosse o sadismo evidente no rosto barbado e o gosto pela auto-depreciação que transpirava do par de peitos, a cena era deveras torturante. Nunca se vira tamanho afeto antes, o bairro inteiro pode ouvir os delírios e gemidos cortantes. Outro dia termina, e mais uma marca entre as pernas; essa é para a coleção.

sexta-feira, 20 de março de 2009

texto sucinto: radiohead. beijos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

olheiras

Terça-feira, estômago em dó menor sustenido "roncando" a 9ª Sinfonia, Vila Bernadete, dentes trincando. O dia cheira a solidão-sólida costumeira. Brisa, chuva fina, beija-flor, folhas balançando ao vento; inspiro, suspiro e seguro toneladas - e uma caneta - com a mão esquerda. É o peso da imaginação - ou falta dela. O vazio é tanto que da margem ao preenchimento - com bosta no ventilador.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Everything in its right place

Minha casa está um lixo, estou seis quilos mais magro (ainda), e totalmente sem dinheiro, mas não importa: é realmente bom sentir que todas as outras coisas estão arrumadas e no seu devido lugar - amigos são amigos. No mais, isso era o clichê que eu precisava escrever hoje.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Confissões:

Tenho SPI. Não é um quadro clínico, mas raramente sento sem balançar os pés ou pernas;

Adoro barulhos repetitivos, especialmente de velcros e zíperes abrindo e fechando. Isso também funciona com música: posso ouvir a mesma por horas sem enjoar;

Por falar em sons, sou VICIADO em plástico bolha;

Ando muito rápido, porém faço questão de andar o mais devagar possível em faixas de pedestre, especialmente com motoristas apressados esperando;

Adoro dormir fora da cama: sofás, chão, cadeiras e até porta-malas são ótimos locais;

Me considero uma pessoa inteligente, mas meu raciocínio lógico diminui 95% ao acordar; é mais fácil dialogar com um pingüim;

Por falar em pingüins, gosto de tais animais, assim como gosto de ratos brancos, porcos, pandas e sonho com mini-girafas - deve ser a coisa mais simpática do mundo levar uma para passear na coleira;

Prefiro limpar um banheiro à lavar louça;

Tenho escoliose e cifose;

Não sou fã de baladas GLS;

Sou fã da Itália, mesmo sendo o país mais uó da UE;

Me irrito com "fica com Deus, tá?", mesmo que as intenções sejam as melhores;

Meu computador é mais organizado que minha casa;

Como pipoca compulsivamente;

Detestei as novas regras da língua portuguesa; continuarei usando o trema até ser corrigido;

Adoro listar coisas.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Praia + ônibus em Florianópolis:

Primeira etapa, a mochila ou necessaire - nada muito grande ou incômodo: duas toalhas, protetor solar fator 1000, chinelos, cigarro(s), garrafas d'água, dinheiro para comer ou tomar cerveja, MP3 player (sim, música para qualquer ocasião e de preferência algo atípico como Björk ou Joy Division - dizem que Ian Curtis amava calor, sol e mar), tubos de oxigênio, pés de pato, máscara de mergulho, o seu animal de estimação, spray fixador, secador de cabelos, escovas de vários tamanhos, desodorante, Chanel Nº5, um pote de babaganuj, dois engradados de cerveja, seu(s) filho(s) ou uma gestante de mau humor, um par de coturnos, um sobretudo e um par de luvas - meias são desnecessárias. Confira tudo antes de pegar o ônibus. Provavelmente a Marlene será uma ótima companhia; ela ama praia.

Segunda etapa, o ônibus: tenha em mãos pelo menos trezentos reais para sair do Centro e conseguir retornar tranqüilamente; as passagens quase não estão caras (aham), mas vale a pena garantir, pois caso você saia da praia após às 19h e não consiga mais pegar o coletivo terá que chamar um táxi. Leve também um Lexotan, ele o ajudará a esquecer que você ficará em pé por mais de uma hora - queridinho, nem sonhe, você só conseguirá sentar novamente na praia. Programe-se e saia de casa cedo - em torno de 3h - caso você queira chegar antes do meio-dia. Ao pegar o ônibus tenha em mãos: paciência para aguentar o cheiro, o calor e o povo falando alto.

Terceira etapa, a praia: Chegando ao paraíso (aham), passe o tempo que julga ser preciso ou necessário, só não esqueça que a partir das 14h o trânsito para voltar ao Centro fica caótico até a meia-noite. Evite algumas atitudes n'algumas praias - na Galheta tente não ficar nu caso você não tenha o corpo adequado, na praia Mole tente não ser tão bich.. digo, homossexual perto do Bar do Deca, no Sul da Ilha - em geral - tente não ser tão manezinho, e, pelo amor de Deus, não seja pobre e ou brasileiro no Norte da Ilha, pois dizem que já deu morte por esses motivos. Há um aviso geral em todas as praias: não acenda o seu baseado, pois geralmente as pessoas são contra isso; e caso não queira ser decapitado, nunca - eu disse NUNCA - fale mal de estrangeiros, pode ser perigoso.

Quarta etapa, a volta: Em sua maioria (exceto no Sul da Ilha), as praias contam com chuveiros e torneiras para você não ter que retornar com areia em todas as partes do seu corpo. Ao entrar no belo ônibus azulado para o Centro, seja cauteloso; tente equilibrar-se o quanto você conseguir, já que o cansaço e a falta de assentos tirará seu equilíbrio. Desça do ônibus, espere mais dois meses e entre em outro coletivo que provavelmente estará lotado. Após ouvir muitas conversas (seu MP3 não tem mais bateria), tentar dormir, fumar um cigarro, cometer suicídio... enfim, você chegará ao Centro, e se tiver sorte terá moradia nessa região. Caso contrário, você pegará mais um maldito meio de transporte e terá que ouvir a piada "passou da ponte é São José" mesmo morando no Estreito.

Última etapa, a chegada: tome um banho, descarregue seus pertences da necessaire, se alimente bem e tenha uma boa noite de sono para visitar as mais de 100 praias que oferecemos em nossa cidade.

Informou A Prefeitura da Ilha da Magia aos desavisados.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Lista Nº1 (de muitas)

Metas para.. algum dia - entre um segundo e dez anos:

- Lidar melhor com responsabilidade;
- "Me passar" menos (isso daria mais uma lista);
- Aperfeiçoar cortes de cabelo, escova, penteado e maquilagem;
- Passar mais confiança para ser respeitado;
- Ler mais;
- Ver mais filmes;
- Ser menos exigente comigo;
- Voltar a tocar violino;
- Descobrir "aquilo" que tenho, mas 99% das pessoas não;
- Dormir como gente;
- Aprender serviços domésticos básicos como trocar um chuveiro;
- Estabilidade financeira;
- Me estabilizar/fixar (isso fica subentendido);
- Acabar a faculdade, morar fora do Brasil, e caso isso não aconteça, São Paulo;
- Observar (mais) as pessoas com quem ando, a maioria não é o que parece ser;
- Me alimentar melhor (comer mais frutas, menos junkie food e menos carne);
- Lidar melhor com dinheiro;
- (ao concretizar o item anterior) Viajar mais, comprar um carro, trocar o sofá, renovar o guarda-roupas;
- Deixar de lado a timidez: isso da margem para ser interpretado como arrogante e esnobe;
- Auto-estima, para que te quero?
- Me vingar (nada específico, mas a sensação é ótima);
- Praticar algum esporte;
- Operar o desvio de septo;
- Não guardar mágoas;
- Ir mais à praia (sem virar o estereotipo dos freqüentadores assíduos).

Para o momento é isso, saturei.